domingo, 25 de abril de 2010

Quanto custa um "obrigado"?


Essa semana foi realmente interessante e me rendeu muitas reflexões. Mesmo com o feriado que proporcionou um descanso no melhor dia possível, aconteceram mais coisas do que em uma semana completa, ou talvez, estar descansada me fez perceber as coisas de outra maneira.

Eu estava trabalhando normalmente, quando o supervisor chamou todos os responsáveis pelo setor em que trabalho para uma reunião e fiquei cuidando de tudo sozinha. Era uma ótima oportunidade para prestar atenção nos mínimos detalhes e fazer as coisas do jeito que eu achava melhor, sem modelos a seguir.

Sentei para ver os emails com os pedidos de trabalho e lá estava a caixa de entrada cheia de novas mensagens. Olhei por um instante, analisando por onde seria melhor começar. Decidi dar prioridade ao jornalismo, afinal, eles tem um volume de trabalho maior e um grau de paciência menor.

Abri o email que solicitava alguns clipes musicais e três vídeos do Adoniran Barbosa para um editor do jornal. Baixei os clipes e cliquei nos links seguintes, mas nenhum deles poderia ser aberto, pois o conteúdo estava bloqueado pela própria empresa. Fiz tudo que era possível, mas não adiantou, desse modo, deixei o email separado para quando o editor aparecesse. Não demorou muito e lá estava ele. Expliquei o problema e sugeri que ele me passasse outros links ou conversasse com a supervisão para ver se era possível desbloquear o acesso, mesmo sabendo que estavam todos em reunião e que a primeira opção era mais plausível.

Ele ficou inconformado, reclamou do sistema e se negou a procurar novos links:

Não tem outros links, só tem esses, só esses tem o que quero.

Perguntei o que exatamente ele queria, quais eram as imagens importantes, qual era o conteúdo da matéria a ser editada, assim eu poderia tentar encontrar em sites acessíveis algum material semelhante ao que ele tanto precisava, mesmo sabendo que o trabalho de pesquisa de imagens não é meu e sim dele, tenho o hábito de tentar ajudar, porque acredito que no fundo, o que importa é o produto final e este deve ser feito em conjunto.

Não dá pra explicar, não tem como você achar, você não vai conseguir, não sabe o que é. Não é possível, por que não abre aqui? Você não sabe desbloquear? Faz alguma coisa aí, dá um jeito, eu preciso destes vídeos. Pronto, que que eu faço agora? Como eu vou trabalhar assim? No meu computador abriu.

Ele reclamava, reclamava, reclamava do sistema, das condições de trabalho, de tudo que lembrava de reclamar. Em alguns pontos tinha razão, mas naquele momento de que adiantava reclamar? Isso resolveria o problema? Não!

Sugeri a ele que tentasse abrir os sites com seu usuário no meu computador, ele titubeou uns instantes, mas acabou aceitando. Sentou-se na cadeira, fez login e quando eu achei que finalmente estava tudo resolvido, lá estava ele reclamando novamente:

E agora? De que adianta ter feito login se não tenho os sites aqui? Vou ter que buscar na redação, não estão anotados...

Mais uma tempestade em um copo d'água. Para mim, parecia óbvio. Se o problema era o usuário, era só abrir no dele. Se o outro problema era não lembrar os sites, era só ir até lá buscar os endereços. Se o endereço não estava lá anotado, era só voltar ao meu usuário, anotar os sites que estavam escritos no email e refazer o processo com o usuário dele. Mas ele não me ouvia, não me deixava falar. Levantou e saiu irritado, tentando encontrar soluções que para mim estavam claras.

Sentei, ainda no usuário dele e digitei os endereços dos sites que por acaso havia decorado. Pronto, lá estavam os vídeos abertos. Fiz tudo que deveria fazer da melhor maneira possível e esperei ele voltar. Alguns minutos depois lá estava ele novamente, dessa vez vindo com o responsável do departamento. Para a surpresa dele, o trabalho estava quase pronto.
Não fiquei esperando aplausos, mas confesso que gostaria que ele tivesse refletido um momento, não por mim, mas porque se ele percebesse que raciocinar de forma lógica e respeitando as pessoas é a melhor maneira de se realizar o trabalho, tudo seria mais fácil para todas as partes.

Ah, deu certo? O que você fez? Conseguiu desbloquear?

Expliquei passo a passo o processo. Ele sorriu de leve, bem de leve mesmo, ou talvez não tenha sorrido, pode ter sido uma impressão minha, impressão de quem esperava um sorriso.

Bom, tá feito, né - ele disse com certo desdém.

Ele saiu e me pediu para levar o trabalho pronto pra ele, me disse onde estaria e disse que estava aguardando. Terminei rapidamente e fui até lá, mas me deparei com outros colegas de trabalho do editor. Perguntei por ele, ninguém sabia, mas se ofereceram para entregar o que deveria ser dado a ele. Voltei para o meu setor e daqui a pouco lá estava ele de novo. Eu sei, isso já está ficando repetitivo e cansativo, imagine para mim então. Ele perguntou onde estava o que ele havia pedido.

Deixei onde você disse que estaria com 'fulano' e 'beltrano' que disseram que entregariam pra você..

Ele reclamou um pouco, porque queria que eu entregasse em mãos:

É, mas não é deles, é meu, deveria ter dado pra mim, mas tudo bem, eu pego lá, que seja.

E saiu sem nenhum "obrigado", sem nenhuma cordialidade, sem sequer dar o sorriso que eu achei ter percebido na visita anterior.

Eu poderia escrever uma série de coisas que explicariam como me senti depois disso, mas não acho realmente necessário. Algumas pessoas merecem ser ajudadas, algumas pessoas não. Meu trabalho continuará sendo feito da melhor maneira possível, porque esse é um ideal do qual não abro mão. Aprendi a fazer o que ele deveria ter feito, resolvi o problema que ele deveria ter resolvido e me sinto realizada sempre que consigo agir assim. Se ele percebeu que pensar e buscar soluções em conjunto é melhor que reclamar é algo que diz respeito somente a ele, afinal, é a carreira dele, o trabalho dele, a imagem dele. O que se refere a mim, eu faço questão de preservar.

Por fim, ajudei duas pessoas que reagiram de maneira bem diferente. Se um dia eu tiver que ajudar somente uma delas, já sei bem quem escolher. As pessoas muitas vezes não percebem que as maiores escolhas são feitas com base nos pequenos detalhes. Existem valores como a educação, a cordialidade, a cooperação, a gratidão, a boa vontade, que não se ensina, não se aprende nos livros, mas no dia a dia, e quando você menos espera eles fazem toda a diferença, porque mesmo de longe, por uma fresta escondida, sempre haverá alguém olhando, e seja lá o que você fizer, o outro sempre terá uma oportunidade de retribuir.

É como botar a mão no fogo. Quando você é uma chama e o outro se queima, você nem percebe, pois o calor que te cerca te coloca em outro patamar, mas quando você é queimado, você se lembra de quando foi uma chama e só então percebe como é estar do outro lado e quão intensa uma queimadura pode ser. A metáfora é dramática e barata, mas muito eficaz.

Uma simples frase: "A vida ensina".

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