domingo, 4 de abril de 2010

Lembrança da influência da Ana



O meu guri

Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar

Como fui levando não sei explicar
Eu assim levando ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse que chegava lá

Olha aí, olha aí, olha aí
Ah, o meu guri
Olha aí, olha aí
É o meu guri
E ele chega

Chega suado e veloz do batente
Traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar

Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documento
Pra finalmente eu me identificar

Olha aí, olha aí
Ah, o meu guri
Olha aí, olha aí
É o meu guri
E ele chega

Chega no morro com carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Mas até ele chegar lá no alto
Essa onda de assalto está um horror

Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar

Olha aí, olha aí
Ah, o meu guri
Olha aí, olha aí
É o meu guri
E ele chega

Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais

O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá

Olha aí, olha aí, olha aí
Ah, o meu guri
Olha aí, olha aí
É o meu guri

Chico Buarque - o mestre.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário