domingo, 25 de abril de 2010
Pão de Açúcar e Flamengo num feriado bem paulista
Quanto custa um "obrigado"?
sábado, 24 de abril de 2010
Reuters
Sentimentos inatos
domingo, 4 de abril de 2010
O Anticristo

"O Anticristo"
Direção: Lars Von Trier.
Elenco: William Dafoe, Charlotte Gainsbourg.
Ano de lançamento: 2009.
Uma cena de sexo memorável, em preto e branco, com a fotografia mais bonita que vi nos últimos tempos, em câmera lenta e tocando “Lascia qu’Io Pianga”, da ópera Rinaldo, de Handel, cujo libreto é baseado em “Jerusalém Libertada”, de Torquato Tasso abre o prefácio do filme que se divide em prefácio, capítulos e epílogo. Enquanto isso, através da montagem paralela, nesse caso usada de forma impecável, o filho do casal desce do berço, assiste à cópula dos pais e na sequência cai da janela. Nenhuma palavra poderia retratar a beleza e a sutileza desta cena, uma das mais geniais que conheço.
Se pudesse voltar no tempo, teria apertado o pause, o eject e parado por aí, afinal, só fui ver o filme para um trabalho de fotografia da faculdade, o enredo era completamente secundário e minha opinião sobre a fotografia já estava formada. Mas curiosa que sou, continuei vendo e alguns poucos minutos depois já estava com a tela minimizada, o iTunes aberto, o Adium pulando, e os vídeos da abertura de "Get Along Gang" e da Charice Pempengco cantando "Because you loved me" com a Celine Dion no youtube carregando.
O motivo do tédio e da impaciência segue: após a morte do filho, a mulher entra em depressão graças ao luto. O marido terapeuta acredita que pode cura-la, mas acaba por contagiar-se com o universo melancólico e insano em que se encontra a esposa. Uma mistura de sonho, subconsciente e realidade se funde e o filme todo parece uma repetição das mesmas cenas. A história se passa em dois ambientes: a casa do casal e uma cabana no Jardim do Éden (um matagal do qual ela tem medo, uma espécie de representação do medo inconsciente). No final, após incontáveis cenas de sexo, loucura e mutilação, ele mata a esposa esganada, no maior estilo Nardoni (impossível não lembrar disso vendo um filme onde uma criança morre após cair da janela e um esgana o outro), e se liberta do Éden.
"O Anticristo" é um filme renomado, visto pela crítica como ácido, provocador, chocante, célebre e digno de estrear nas melhores salas de cinema de São Paulo. Talvez seja esse meu problema com os filmes considerados cults e com as pessoas que se esforçam para fazer parte dessa onda cult, tal como os falsos vegans e todas as outras tribos para as quais jovens se moldam no intuito de serem aceitos como pertencentes a alguma instituição. Classificar um filme como cult faz com que o espectador espere muito dele e encontre justificativas para tudo que nele é feito. Os jump cuts, as quebras de eixo, a câmera tremida e os enquadramentos que fogem à regra são propositais e denotam um estilo inovador, conhecimento técnico; a não-linearidade, a chatice e monotonia das cenas expressa um estilo complexo e intencional de atormentar (o que eu chamo de entediar) o espectador; a falta de explicação e as ações desconexas demonstram essência inquieta por parte dos criadores e assim por diante. Eu me pergunto:
"Se o filme fosse feito pelo Zé da Esquina que não sabe se expressar para justificar seu estilo de filmagem e narrativa, exibido nos cinemas mais chinfrins da cidade e feito sob os mesmos moldes, seria tão aclamado? Não!"
Tudo aquilo que provocasse estranheza seria visto como erro, enquanto no filme de Lars Von Trier é tudo intencional. Quer dizer, não importa se o intuito do cineasta é mesmo filmar de forma diferente porque aquilo expressa parte de sua essência, importa que ele seja renomado. É impossível afirmar que Von Trier fez tudo que fez por esse ou aquele motivo, como seria impossível dizer o mesmo do nosso amigo Zé da Esquina. Talvez sejam erros, experimentação, intencionalidade, casualidade e não causalidade, estilos novos (que não tem nada de novos) sendo testados, talvez sejam apenas boas explicações mascarando a verdadeira essência, a criação genuína, o inconsciente. É incrível e revoltante que para a crítica e para os cults, a genialidade nunca está na obra, mas em quem a assina.
Por fim, eu devo dizer que a decepção com "O Anticristo" foi dupla, afinal, não vi nenhuma manifestação explicitamente anti cristã, tal como a de Friedrich Nietzsche no livro que leva o mesmo nome do filme (embora não haja nenhum vínculo entre ambas as obras). Talvez meu olhar não seja cult e aguçado, ou talvez eu tenha conseguido me poupar da contaminação pelo status. É um filme para ser visto quando se está atrasado para o trabalho, assim, só dá tempo de ver a primeira cena e nutrir profunda admiração por ela.
A Órfã - a subjetiva deterioração da adoção

“A Órfã"
Direção: Jaume Collet-Serra.
Elenco: Isabelle Fuhrman, Vera Farmiga, Peter Sarsgaard.
Ano de lançamento: 2009.
Após perder a filha em um aborto natural, o casal cujo nome não me recordo resolve adotar uma criança, embora já tenham dois filhos - um garoto pentelho e uma garota surda. Em um orfanato, conhecem a russa Esther, uma criança de 9 anos, portadora de altas habilidades que os encanta com sua maturidade, talento e domínio das palavras. Sem saber nada da origem da criança (apenas que ela foi deixada no orfanato após a morte de toda a família em um incêndio), o casal a adota e aos poucos percebe que uma sucessão de acontecimentos macabros acontecem quando a menina está por perto.
Ao longo do filme, Esther mata a machadadas uma freira, quebra o próprio braço propositalmente, ameaça os irmãos com um revólver e, num tom psicopata retrata todos seus crimes em desenhos aparentemente infantis, que quando vistos sob a luz negra mostram a representação de todos os planos assustadores da garotinha. A mãe é a única a perceber que há algo errado com Esther, afinal, o pai está muito distraído sendo seduzido numa espécie de pedofilia incestuosa inversa.
Por um instante, pedi aos céus que o filme tivesse um desfecho interessante, afinal, tratava-se de uma criança monstruosa, era no mínimo curioso, interessante, afinal, mesmo as crianças mais maldosas do cinema são sempre influenciadas por uma força maligna, enquanto essa era genuinamente ruim. Como todo filme de terror, o final conseguiu ser pior que a fotografia nada inovadora e que o enredo mal amarrado. Esther sofria de hipopituarismo (aquela doença onde os anos se passam e a pessoa continua com aparência infantil) e tinha 33 anos. Ela amarrava faixas para esconder os seios e usava uma dentadura infantil. De repente a criança cruel virou uma anã despeitada por ser rejeitada pelo pai adotivo, por quem nutria desejo sexual. O final do filme foi uma mistura do mal uso da montagem paralela de D.W. Griffith com o estilo perseguidor/perseguido de "Sexta-feira 13", onde o Jason era uma garotinha mal caracterizada como adulta.
A única coisa que posso dizer é que, se o objetivo do roteirista e do diretor era assustar os espectadores, pelo menos a mim eles conseguiram. Não com as cenas feitas em luz de meia penumbra, com os efeitos sonoros típicos dos filmes de terror ou sequer com os cortes frenéticos, mas com a total falta de qualidade, com a incapacidade de amarrar os fatos, de traçar um rumo para a história e principalmente, com o final que conseguiu ser pior do que aqueles previsíveis em filmes do gênero (tal como em "A Casa de Cera", do mesmo diretor).
O susto maior veio certamente quando olhei no relógio e percebi que passei duas horas sentada no pufe pêra aqui de casa, que era madrugada de um domingo pra segunda, que eu iria trabalhar no dia seguinte e que aquilo não era uma piada.
A arte pela arte
Sede de leite azedo
Lembrança da influência da Ana

sábado, 3 de abril de 2010
A absolvição do casal Nardoni

Finalmente consegui um tempo livre e ao invés de dedica-lo a algo extremamente útil como arrumar a bagunça de casa, organizar o cronograma de trabalhos da faculdade e descansar a mente deitada na cama sozinha, resolvi escrever sobre o assunto mais falado nas últimas semanas: o caso Nardoni. Admito, estou um pouco atrasada, mas é algo em que tenho pensado e não quero deixar a ideia se perder.