Nossos passos se cruzavam, nossos olhares estagnados, um no outro fixados, os olhos dela sorriam para os meus e não importa há quanto tempo estivessem atrofiados, quando o meu olhar e o dela se encontravam, era como se o silêncio nos tomasse, meus lábios travados engoliam as frases feitas e ensaiadas, um calafrio me tomava o corpo todo, enquanto ela só olhava e olhava, de um jeito hipnótico, misterioso, encantador, um olhar profundo, fixo, ofegante, que algumas vezes, quando ninguém observava, transformava-se em sílabas, palavras, frases, raras vezes dotadas de algum sentido.
Eu sentia que aqueles olhos escondiam tantas palavras e que, talvez como eu, ela também travava, também sentia, tremia, imaginava, e que nos poucos momentos em que o calafrio me abandonava era porque estava distraído percorrendo o corpo que ela, como eu, mal controlava. Talvez ela olhasse, pensasse, sentisse tudo que eu pensava e sentia, talvez ela apenas olhasse num ato físico e reflexivo e sequer percebia, talvez fosse apenas minha mania de fantasiar, achando que os olhos dela poderiam estar falando, pensando e sorrindo, só porque os meus olhos gostariam de sorrir se ela dissesse o que meus pensamentos queriam escutar.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário