terça-feira, 16 de março de 2010

Eu sabia...


...desde o início onde encontra-la, sabia onde ela estava, quando e como estava, sabia inclusive como chegar lá, mas não sabia como ficar. Ela passava e eu a encontrava em todas as esquinas, como se o acaso tivesse planejado nos levar até lá, ou talvez o destino disfarçado de acaso, ou o conhecimento de cada um de seus passos é que me fazia estar onde ela pudesse estar. Mas de que adiantava?

Nossos passos se cruzavam, nossos olhares estagnados, um no outro fixados, os olhos dela sorriam para os meus e não importa há quanto tempo estivessem atrofiados, quando o meu olhar e o dela se encontravam, era como se o silêncio nos tomasse, meus lábios travados engoliam as frases feitas e ensaiadas, um calafrio me tomava o corpo todo, enquanto ela só olhava e olhava, de um jeito hipnótico, misterioso, encantador, um olhar profundo, fixo, ofegante, que algumas vezes, quando ninguém observava, transformava-se em sílabas, palavras, frases, raras vezes dotadas de algum sentido.

Eu sentia que aqueles olhos escondiam tantas palavras e que, talvez como eu, ela também travava, também sentia, tremia, imaginava, e que nos poucos momentos em que o calafrio me abandonava era porque estava distraído percorrendo o corpo que ela, como eu, mal controlava. Talvez ela olhasse, pensasse, sentisse tudo que eu pensava e sentia, talvez ela apenas olhasse num ato físico e reflexivo e sequer percebia, talvez fosse apenas minha mania de fantasiar, achando que os olhos dela poderiam estar falando, pensando e sorrindo, só porque os meus olhos gostariam de sorrir se ela dissesse o que meus pensamentos queriam escutar.

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