quinta-feira, 18 de março de 2010

Coffee break


Essa semana me dediquei muito à introspecção, a conversar comigo mesma, talvez pela dor de garganta que me impediu de falar muito ou pela tpm, que sempre me acomete de formas diferentes. Sei que entre cefalexinas, amoxilinas, atroveran, tylenol, chás e balas de menta, aproveitei para refletir (mais que o normal) sobre algumas coisas.

Enquanto lavava as mãos no banheiro de onde trabalho, ouvi uma conversa entre algumas moças, uma jornalista, uma editora de VT e uma estagiária. Uma delas estava atordoada por não saber se terminava ou não com o namorado por quem ela já não sentia mais nada, enquanto as outras duas davam conselhos com base em suas experiências em relacionamentos. Entre uma frase e outra, eu me desconcentrava, prestava atenção nos meus próprios pensamentos, em pegar o papel higiênico, na dor de garganta, nas dores no corpo, e quando voltava, continuava ouvindo a longa e filosófica conversa de banheiro. Comecei a lavar as mãos, disposta a sair rápido dali, afinal, não queria dar a entender que estava demorando só para prestar atenção na tal história (e realmente, não estava mesmo interessada no desfecho, afinal, era apenas um debate sofista carente de desfecho, pelo menos naquele momento). De repente, a garota disse que não queria terminar porque não gostava de ficar sozinha. E eu, subitamente respondi em voz alta:

Solidão é relativa.

Elas se voltaram para mim e eu logo pensei "Quê que eu falei? Por que tô me metendo na conversa delas se eu mal as conheço, se eu queria passar desapercebida, se queria fingir que nem ouvi o que diziam? Boca maldita!". Estava dito. Elas continuaram olhando e me senti na obrigação de continuar:

Solidão é como você se sente em relação ao mundo exterior, é sensorial e não físico. Ter alguém ao lado não quer dizer que você não está sozinha, porque se você se sente só, pode ter o mundo em volta de você e isso não fará diferença. Se você tem alguém que não te preenche, que não completa seu vazio, você continuará sozinha, o vazio continua lá, não tem como não senti-lo. (Ok, não foram exatamente essas palavras, mas foi isso que eu quis dizer).

Elas gostaram da resposta, me elogiaram pela contribuição e voltaram a discutir o assunto, e eu saí de lá pensando se o que eu tinha dito fez alguma diferença para elas e se fazia alguma diferença para mim.

O fato é que de solidão eu entendo, tanto em matéria de sentir-se só, como de estar só, fisicamente mesmo. E aí percebi que é uma das coisas que mais sinto falta, não me sentir só, embora eu sequer lembre como é isso. Acho que sinto falta daquilo que imagino ser o sentimento de preenchimento, de não sentir a solidão, afinal, sempre a senti.

Depois de toda essa reflexão, lembrei que em meu emprego anterior meu chefe era um imbecil que odiava quando nós conversavamos, e eu sentia falta de ouvir barulho, de ouvir gente falando, de conversar e interagir sobre qualquer assunto que fosse. Já nesse emprego, o que mais faço é conversar (e isso não interfere no trabalho), mas o vazio continua. Descobri que a falta que eu sentia lá e que ainda sinto é da conversa entre duas pessoas, da troca de informações, de algo (ou deveria dizer alguém?) que me acrescente (há ressalvas quanto a isso, porque existem algumas pessoas que me acrescentam e muito em meu trabalho). Talvez pareça arrogância, prepotência, egocentrismo até, mas são raras as pessoas que nos acrescentam alguma coisa. Essa semana, por exemplo, eu venerei o silêncio, os momentos em que não precisei conversar sobre algum assunto que não me levaria a lugar nenhum.

Acho que a conclusão é que, sendo seres sociais, pois (in)felizmente somos, a ação é praticamente indiferente, a diferença está em quem pratica a ação conosco. Conversar sobre as soluções para a fome mundial, a cura para a aids, o novo clipe da Lady Gaga ou qual deve ser o gosto do chá do Santo Daime com alguém que nos acrescenta é extremamente prazeroso e útil, da mesma forma que os mesmos assuntos com quem não nos acrescenta nada, resultará obviamente em nada!

Qual o paralelo com a conversa das meninas no banheiro? Ah, é como a solidão. A existência do namorado é indiferente, a diferença está em como ela se sente em relação a ele.

Bom, agora vou encerrar o texto e tomar um café. Ah, aliás, uns dias depois de ouvir essa conversa no banheiro, reencontrei a garota indecisa e ela disse que terminou o namoro. Será que o que eu disse fez diferença? Será que eu terminei com o namoro dela? Será que eu abri os olhos dela? Será que ela lembra que fui eu quem falei? Será que ela lembra o que falei? Será que ela precisava de algum pretexto? Será que ela entendeu? Será que eu entendi?

É... sempre me restam mais perguntas do que respostas.

Coffee break!
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