domingo, 28 de março de 2010

Vinte centavos

O tempo é a prova mais fiel de que nada está sob meu controle, por mais que eu teime em tentar me convencer de que posso controlar o mundo e, acima de tudo, a mim mesma. Como eu gostaria de ter tempo para viver quando a vida bate em minha porta e como gostaria de acelerar o tempo para que a vida fosse se esvaindo entre meus dedos e se transformasse em um vulto, em quase nada, em uma única página a ser virada para finalmente chegar ao fim do livro.

Pensei que a semana não chegaria ao fim... Foram tantos os acontecimentos, tantos altos e baixos, tantas ideias e sentimentos, vontade de escrever, vontade de escrever, escrever tudo, mas o tempo não deixava.

Acho que tudo começou quando uma mistura de estresse, incapacidade, ciúme, raiva, inferioridade e confusão me invadiu de um jeito torpe, forte, como se viesse pra ficar. Ora, como é que eu poderia ser deselegante e convidar todo esse transtorno a se retirar? E o que eu sempre faço quando me sinto acuada e assustada? Faço com que os outros se sintam piores que eu, assim não podem ver o quão mal eu me sinto. Em seguida, a diferença, o não-pertencimento, o vazio, a sensação de ser reflexo do nada, um incomodo inexplicável, vontade de me encolher e me esconder num cantinho, hora de fugir. Eram tantos os pensamentos ruins que não sobrava tempo pra mais nada. Um barulho interrompeu as frases feitas em minha cabeça, era meu estômago chamando, gritando, reclamando dos maus tratos. Fome. Enfiei a mão na bolsa, no bolso e... nada. Vinte centavos. A isso se resumia minha vida, minha fome, meu desejo, minha dignidade. Vinte centavos é menos que nada, pois quando se tem vinte centavos não se compra nada, e ainda há o peso de carrega-lo. A tristeza e a raiva se misturavam ao estômago que cada vez reclamava mais alto. No dia seguinte, depois de algumas lágrimas, pensamentos suicidas e um pouco de sono, a alegria voltou de viagem, empurrou a tristeza pra longe de forma deselegante, mal educada e se instalou bem no meio de mim, esparramada, ocupando todo o espaço que lhe cabia. Seria isso um forte indício de bipolaridade? Ir da depressão à mania em algumas horas realmente não é mesmo muito normal, mas quem define a tal normalidade? Deixei de lado a bipolaridade, não por medo ou "ceticismo científico", mas que psiquiatra me atenderia se eu lhe oferecesse vinte centavos? Melhor correr e pegar o ônibus até em casa, onde haveria comida e cama de graça.

Cheguei e não havia nada. Corri para ligar a TV e ouvir a sentença dos Nardoni, ou devo dizer a sentença da vaidade, da inutilidade, da hipocrisia, do falso moralismo nacional? Achei a leitura do juiz pouco agradável, mas esse é um assunto que pretendo tratar com mais delicadeza em outro momento. Encostei a cabeça no travesseiro, lembrei da meleca feita com cola e jornal na aula de direção de arte, lembrei da tensão do trabalho pacato, da saudade de ouvir uma voz familiar e ver feições acolhedoras, dos transtornos, da fome, dos amigos, dos planos profissionais, da faculdade, da fome, das obrigações, das boas risadas que se foram com as pessoas que as causavam, da fome, do sono, da fome... E a sentença continuava sendo dada entre fogos e lágrimas...

Fechei os olhos e prometi que o final de semana seria produtivo, mas assim que lembrei daqueles velhos vinte centavos, achei melhor fazer meu próprio caderno de arte, cozinhar e comer o que tinha no armário (e que nunca foi tão saboroso), ver os filmes que carinhosamente os amigos emprestaram e sorrir com a vitória do Flamengo no domingo. O cabelo desarrumado, as unhas mal feitas, o quarto bagunçado, a roupa suja, o caderno artesanal torto e cheirando a café, mas a alma lavada.

Engraçado mesmo é que sentei para escrever sobre a mídia, sobre a defasagem na graduação, a falta de contribuição intelectual e prática das disciplinas de direção de arte e elenco, a tão falada Semana do Caso Isabella, a briga entre a razão e a emoção, a suspeita da minha bipolaridade, o fim de semana perdido, etc etc etc... e no fim, acabei falando daquilo que estava dentro e mais uma vez deixando os planos de lado. Pelo menos os assuntos estão anotados, vou deixa-los guardados na gaveta junto com as ideias para as resenhas dos filmes que vi (A Órfã e Frida - sim, quase opostos) e, claro, junto com os vinte centavos.

Quando a gente pensa que a vida não vale nada, descobrimos que dá pra viver uma eternidade em apenas alguns pensamentos e, só por segurança, ainda assim guardar uma moeda ou duas que somem vinte centavos.



domingo, 21 de março de 2010

Gabi


Eu acredito muito em energia e as pessoas devem atrair umas as outras através da combinação de suas energias. Eu não poderia deixar um dia como hoje passar em branco, sequer poderia sentar para digitar e escrever sobre meus sentimentos sem fazer nenhuma citação a quem me acrescenta, me ensina, me compreende e completa, me desafia, me faz discutir horas a fio, me obriga a dar o braço a torcer, me faz chorar, chora comigo, me faz ver além das aparências, me faz rever, aceitar, entender pontos de vista tão opostos aos meus. Me ajuda a entender o que a lógica não explica, me explica a física quântica, me conta o final da Caverna do Dragão, me bota pra dormir, me deixa ser frágil e ser aquilo que muitas vezes nem eu mesma sabia que poderia ser.

E por que não ser objetiva, direta, citando nomes e tudo mais? Eu não sei se você é minha melhor amiga, uma irmã ou se é realmente o anjo da guarda que um dia eu disse que você era. Eu sei que eu te amo e eu não preciso te dizer nada, não preciso provar nada, não preciso estar sempre perto de você. Eu só preciso olhar, de cantinho, rapidinho, de ladinho, e você reconhece meu jeito de olhar e já sabe de tudo, sem eu ter que ter o trabalho de falar.

Provavelmente é o primeiro e último texto que faço sobre e para alguém. Mas não estaria sendo eu e não seria honesta comigo mesma se não o fizesse. Obrigada.

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"...O cair da tarde no velho terreiro..."

Eu pensei, pensei, pensei... falar ou não falar sobre o assunto?

É o tipo de coisa que me constrange um pouco, ou melhor, muito. Eu que sempre prezei pelo ceticismo, pela lógica, pela fé na ciência, no mundo material, no que é palpável, de repente me vejo tão vulnerável, frágil, confusa, admirada, encantada com aquilo que não posso provar, não posso tocar, não posso sequer manipular ou controlar como costumo fazer com o que está a minha volta.

A pergunta é:

Por que todo mundo me diria a mesma mentira? Quer dizer, como todos eles seriam tão igualmente criativos e casualmente criariam os mesmos personagens, a mesma história, o mesmo clímax, o mesmo desfecho?

No final, tudo não passa de um filme de ficção. É apenas uma história que alguém escreveu despejando no papel parte de si, com personagens disfarçando verdades em falas decoradas, com a interpretação e o sentido que a experiência de quem vê quiser enxergar.

Nenhuma ficção é ausente por completo de realidade e nenhuma realidade é real se quem a interpreta não acredita nela. Então, se alguém acredita que uma história é real é o suficiente para que seja verdade? E se tudo que é real inspira parcialmente o que é ficcional e toda história de ficção é fundamentada de alguma forma em sentimentos e experiências, tudo passa a ser realidade?

Do alto de tanta complexidade, me limito a parar por aqui, antes que eu me perca entre a ficção e a suposta realidade.

O desfecho do meu dia é uma questão de ponto de vista. O cabelo arrumado, o corpo descansado, a gripe com um pé aqui, outro lá. Um macarrão pesado, molho queimado e super salgado e queijo ralado na hora. O estômago às voltas entre goladas de limão e água adoçada. Flashes do Fantástico, Escolta de Vagalumes, textos, pensamentos, palavras e palavras.

Mas uma alegria que me acompanha, e que agora mais que nunca eu sei que me acompanha. Eu falei pra ela, depois de muito pensar, mas ela não agiu diferente do que eu imaginava. O preconceito é muito maior que a capacidade de ouvir, sentir, pensar, respeitar. Eu derramei uma ou outra lágrima que ele secou, e aí acabei deixando pra lá. Talvez um dia ela entenda. Não quem ele é, não onde ele está, porque isso sequer eu poderia afirmar. Talvez um dia ela entenda que tudo que eu esperava era um sorriso e que ela ficasse feliz pela paz, pelo conforto, pela felicidade que eu acabei de encontrar.

Quanto a minha interpretação do que é real, do que é ficção e do que é conveniente acreditar, tanto faz. Que diferença fará? É como ver um filme de conto de fadas e sorrir esperando o príncipe vir te buscar. Talvez ele venha, talvez não exista, quem tem certeza suficiente pra afirmar? O importante é o sorriso gostoso que você dá esperando ele chegar.

Eu sempre soube que era ele, que ele viria comigo onde eu fosse. E agora eu entendo tudo que durante muito tempo a lógica não conseguiu me explicar. Se vai ser diferente amanhã não sei. Só sei que eu estou bem, ele está bem, ela está bem. Ela não disse com as palavras, mas tem outras formas de se falar. Agora é hora de cair na cama e quem sabe um dia assistir ao cair da tarde no velho terreiro.

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sexta-feira, 19 de março de 2010

1/2 palavra basta


Algumas coisas exigem muitos argumentos e até uma certa prolixidade, outras são tão simples (ou tão complicadas) que quanto menos se diz, mais claro fica.
Acredito que quando se trata de sentimentos, principalmente daqueles que não conhecemos muito bem, meias palavras são capazes de compor um enredo inteiro.

É engraçado, mas eu vejo beleza no jeito que você olha, no jeito que sorri, na sutileza inconfundível que só você tem.

Você não precisa dizer nada quando olha de perto, frente a frente. Seu olhar é tão penetrante que qualquer palavra ficaria perdida se fosse dita.

Você não precisa sequer olhar muito tempo quando sorri, um sorriso confiante e tímido, com o canto da boca. Seu sorriso é tão cheio de alegria e ao mesmo tempo tão inesperado, exclusivo, sincero, do tipo que jamais viria se a alma não se encolhesse um pouquinho e desse passagem pra ele chegar.

Me encanta a sutileza com que você começa um assunto, sem jamais pretender terminar, sem dar muita importância, num tom blasé, mas ao mesmo tempo deixando claro que aquele frame de segundo não poderia lidar com o puro silêncio. Cada meia palavra, monossilábica, soprada, quase uma onomatopéia sussurrada que você diz parece fazer parte de um conto, parece uma história pronta toda desenhada.

E na sua história que eu inventei, é você quem escolhe no meio do enredo o olhar, o sorriso, e principalmente a frase aleatória que, num curto segundo, irá ecoar.

O importante no final do dia é que eu lembro do seu olhar, lembro do seu sorriso, lembro das poucas palavras, lembro de você... e uma coisa boa acontece aqui dentro, dentro de mim, uma coisa difícil de explicar. Só sei que dá vontade de sorrir pra todo mundo quando começo a lembrar.
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quinta-feira, 18 de março de 2010

Coffee break


Essa semana me dediquei muito à introspecção, a conversar comigo mesma, talvez pela dor de garganta que me impediu de falar muito ou pela tpm, que sempre me acomete de formas diferentes. Sei que entre cefalexinas, amoxilinas, atroveran, tylenol, chás e balas de menta, aproveitei para refletir (mais que o normal) sobre algumas coisas.

Enquanto lavava as mãos no banheiro de onde trabalho, ouvi uma conversa entre algumas moças, uma jornalista, uma editora de VT e uma estagiária. Uma delas estava atordoada por não saber se terminava ou não com o namorado por quem ela já não sentia mais nada, enquanto as outras duas davam conselhos com base em suas experiências em relacionamentos. Entre uma frase e outra, eu me desconcentrava, prestava atenção nos meus próprios pensamentos, em pegar o papel higiênico, na dor de garganta, nas dores no corpo, e quando voltava, continuava ouvindo a longa e filosófica conversa de banheiro. Comecei a lavar as mãos, disposta a sair rápido dali, afinal, não queria dar a entender que estava demorando só para prestar atenção na tal história (e realmente, não estava mesmo interessada no desfecho, afinal, era apenas um debate sofista carente de desfecho, pelo menos naquele momento). De repente, a garota disse que não queria terminar porque não gostava de ficar sozinha. E eu, subitamente respondi em voz alta:

Solidão é relativa.

Elas se voltaram para mim e eu logo pensei "Quê que eu falei? Por que tô me metendo na conversa delas se eu mal as conheço, se eu queria passar desapercebida, se queria fingir que nem ouvi o que diziam? Boca maldita!". Estava dito. Elas continuaram olhando e me senti na obrigação de continuar:

Solidão é como você se sente em relação ao mundo exterior, é sensorial e não físico. Ter alguém ao lado não quer dizer que você não está sozinha, porque se você se sente só, pode ter o mundo em volta de você e isso não fará diferença. Se você tem alguém que não te preenche, que não completa seu vazio, você continuará sozinha, o vazio continua lá, não tem como não senti-lo. (Ok, não foram exatamente essas palavras, mas foi isso que eu quis dizer).

Elas gostaram da resposta, me elogiaram pela contribuição e voltaram a discutir o assunto, e eu saí de lá pensando se o que eu tinha dito fez alguma diferença para elas e se fazia alguma diferença para mim.

O fato é que de solidão eu entendo, tanto em matéria de sentir-se só, como de estar só, fisicamente mesmo. E aí percebi que é uma das coisas que mais sinto falta, não me sentir só, embora eu sequer lembre como é isso. Acho que sinto falta daquilo que imagino ser o sentimento de preenchimento, de não sentir a solidão, afinal, sempre a senti.

Depois de toda essa reflexão, lembrei que em meu emprego anterior meu chefe era um imbecil que odiava quando nós conversavamos, e eu sentia falta de ouvir barulho, de ouvir gente falando, de conversar e interagir sobre qualquer assunto que fosse. Já nesse emprego, o que mais faço é conversar (e isso não interfere no trabalho), mas o vazio continua. Descobri que a falta que eu sentia lá e que ainda sinto é da conversa entre duas pessoas, da troca de informações, de algo (ou deveria dizer alguém?) que me acrescente (há ressalvas quanto a isso, porque existem algumas pessoas que me acrescentam e muito em meu trabalho). Talvez pareça arrogância, prepotência, egocentrismo até, mas são raras as pessoas que nos acrescentam alguma coisa. Essa semana, por exemplo, eu venerei o silêncio, os momentos em que não precisei conversar sobre algum assunto que não me levaria a lugar nenhum.

Acho que a conclusão é que, sendo seres sociais, pois (in)felizmente somos, a ação é praticamente indiferente, a diferença está em quem pratica a ação conosco. Conversar sobre as soluções para a fome mundial, a cura para a aids, o novo clipe da Lady Gaga ou qual deve ser o gosto do chá do Santo Daime com alguém que nos acrescenta é extremamente prazeroso e útil, da mesma forma que os mesmos assuntos com quem não nos acrescenta nada, resultará obviamente em nada!

Qual o paralelo com a conversa das meninas no banheiro? Ah, é como a solidão. A existência do namorado é indiferente, a diferença está em como ela se sente em relação a ele.

Bom, agora vou encerrar o texto e tomar um café. Ah, aliás, uns dias depois de ouvir essa conversa no banheiro, reencontrei a garota indecisa e ela disse que terminou o namoro. Será que o que eu disse fez diferença? Será que eu terminei com o namoro dela? Será que eu abri os olhos dela? Será que ela lembra que fui eu quem falei? Será que ela lembra o que falei? Será que ela precisava de algum pretexto? Será que ela entendeu? Será que eu entendi?

É... sempre me restam mais perguntas do que respostas.

Coffee break!
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Bola de neve


Sempre fui extremamente crítica em relação a todas as coisas, mas ultimamente, tenho me concentrado muito mais em encontrar as soluções para os problemas do que em aponta-los sem tentar resolve-los. Desse modo, percebi que a inteligência e o diferencial não está em enxergar o que é ruim, mas em transformar isso em algo bom. Simples:

Se você está no meio de uma avalanche, amarrado por uma corrente a uma outra pessoa e percebe que há uma bola de neve vindo rapidamente na direção de vocês, o que você faz?

a) Fica parado em frente a bola de neve, tentando se desprender de seu acompanhante, reclamando da existência da bola de neve e procurando o culpado pelo seu surgimento.
b) Sai da frente da bola de neve o mais rápido possível junto com seu colega de desastre para não ser atingido?

A resposta parece óbvia! Oras, você sai correndo com a outra pessoa, afinal, duas pessoas correndo na mesma direção e trabalhando em conjunto tem mais chances de sobreviver do que se cada uma perder tempo correndo para lados opostos, tentando se soltar uma da outra e procurando culpados pela má sorte.
Mas na vida real, por incrível que pareça, a resposta não é tão óbvia assim. Suponhamos que a pista de neve seja uma das instituições que nós frequentamos (escola, faculdade, trabalho, etc), que a pessoa a quem estamos acorrentados seja alguém com quem convivemos no ambiente pensado anteriormente, e a bola de neve representa os problemas do cotidiano.
As pessoas costumam enxergar a bola de neve somente quando ela está muito perto e ninguém percebe que não há como dete-la, quando ela já está grande e em movimento. A única solução é descobrir onde ela começa a ser formada e impedir que isso aconteça. Os problemas de qualquer instituição tem origem no topo da pirâmide, mas para quem está embaixo é muito mais fácil culpar aquele que está na base com ele, sofrendo tanto quanto ele com as consequências da vinda da bola de neve, do que olhar para cima, escalar a pirâmide e consertar as coisas desde o início.
O que as pessoas não percebem é que, elas como "base" da pirâmide, ao se atacarem, deixam de trabalhar em conjunto e se desestabilizam, derrubando toda a pirâmide. Se elas não podem sair da base onde estão, porque precisam segurar todos que estão acima, resta a única opção plausível e lógica: elas devem se unir, para que seja mais fácil e lucrativo driblar a bola de neve e sustentar a pirâmide.
O grande problema é exatamente esse. É muito mais simples enxergar a bola de neve do que esquivar-se dela. É muito mais prático culpar o outro, do que ajuda-lo a encontrar uma solução para o que está ruim. E desse modo, a pirâmide continua balançando, ora pra direita, ora pra esquerda.
Os poucos seres dotados de alguma lógica ou inteligência driblam a bola de neve do jeito que podem e carregam com eles aqueles que atuam como um peso morto, porque infelizmente a capacidade mental limitada destes não lhes permite enxergar além da bola de neve.

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terça-feira, 16 de março de 2010

Eu sabia...


...desde o início onde encontra-la, sabia onde ela estava, quando e como estava, sabia inclusive como chegar lá, mas não sabia como ficar. Ela passava e eu a encontrava em todas as esquinas, como se o acaso tivesse planejado nos levar até lá, ou talvez o destino disfarçado de acaso, ou o conhecimento de cada um de seus passos é que me fazia estar onde ela pudesse estar. Mas de que adiantava?

Nossos passos se cruzavam, nossos olhares estagnados, um no outro fixados, os olhos dela sorriam para os meus e não importa há quanto tempo estivessem atrofiados, quando o meu olhar e o dela se encontravam, era como se o silêncio nos tomasse, meus lábios travados engoliam as frases feitas e ensaiadas, um calafrio me tomava o corpo todo, enquanto ela só olhava e olhava, de um jeito hipnótico, misterioso, encantador, um olhar profundo, fixo, ofegante, que algumas vezes, quando ninguém observava, transformava-se em sílabas, palavras, frases, raras vezes dotadas de algum sentido.

Eu sentia que aqueles olhos escondiam tantas palavras e que, talvez como eu, ela também travava, também sentia, tremia, imaginava, e que nos poucos momentos em que o calafrio me abandonava era porque estava distraído percorrendo o corpo que ela, como eu, mal controlava. Talvez ela olhasse, pensasse, sentisse tudo que eu pensava e sentia, talvez ela apenas olhasse num ato físico e reflexivo e sequer percebia, talvez fosse apenas minha mania de fantasiar, achando que os olhos dela poderiam estar falando, pensando e sorrindo, só porque os meus olhos gostariam de sorrir se ela dissesse o que meus pensamentos queriam escutar.

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Gia: melhores frases


Gia Marie Carangi nasceu na Filadélfia, foi abandonada pela mãe e mudou-se para New York aos 18 anos, quando sua carreira decolou. Foi a primeira super modelo americana e ficou famosa pela rebeldia, por usar roupas masculinas e pela conturbada vida sexual que levava. Foi da fama à destruição após se envolver com as drogas e passar por diversos programas de reabilitação. Enquanto a heroína deu fim à carreira de Gia, a Aids contraída pelo uso de seringas contaminadas deu fim à vida da modelo, pouco depois. Uma história trágica e real que se repete, infelizmente, até hoje. O filme que conta a vida de Gia e leva o nome dela rendeu um Oscar de melhor atriz à belíssima Angelina Jolie e vale muito a pena de ser visto e revisto.

"Gia: Too beautiful to die, too wild to live".

"Are you nervous? Am I making you nervous? Good, that's the idea.
You scare the shit out of people so they can't see how scared you are." (Gia)

"Dear book, this is another day in my life. A life is like a book. A book is like a box. A box has six sides. Inside and outside, so, how do you get to what's inside? How do you get what's inside, out? Once upon a time, there lived a very pretty girl, who lived in a beautiful box, and everybody loved her." (Gia)

"I could learn photography. That could be something to want. I could photograph children. I could have my own children. I would give them yellow roses. And if they got too loud, I would just put them some place quiet. Put them in the oven. And I would kiss them every day, and tell them you don't have to be anybody, because I would know that being somebody doesn't make you anybody anyway." (Gia)

"Sex was really easy. There was sex everywhere. It didn't really mean too much. Love, love was the hard thing to find. Even if you were looking for it, which not too many people were. And even if you found it, which not too many people did, even if it was right there in front of you. How could you see it with all the sex in the way?" (T.J.)

"She was like a puppy. She was like... love me, love me, love me... and I did. I did right away." (Linda)

"Wait a minute. What am I supposed to feel? Sorry for you because you made ten thousand a minute doing fuckin' nothing? 'Oh it was so hard, so terrible, they treated me so bad.' Listen girl, you had a free ride. And you fuckin' blew it. And me? I'm some kid from Ohio, reading fashion magazines, looking at your picture and thinking I'm supposed to look like that. And going fucking crazy because I don't. Because nobody told me it was a lie. Because the magazine doesn't come with a label that says 'Caution: This is a lie. Nobody looks like this.' Not even you." (Garota do grupo de terapia e reabilitação)

"You know what I think? I think there's a reason for everything. And I think that there's a plan for everyone. And I think that God has a big plan for me. Just not in this life." (Gia)

"Go see, go see, go see. I go see everybody but nobody sees me. I ain't good at this. And even if you are good, what exactly are you good at?" (Gia)

"Na frente do elevador lotado:
Gia: Where are you going?
Linda: Gia, you don't have any clothes on.
Gia: Don't change the subject! Please, stay, I'll make you breakfast.
Linda: I can't. We had..I had..I'm actually very squeeze.
Gia: And so am I.
Linda: Yeah, I can see. Sorry, but I have a boyfriend.
Gia: So?
Linda: So? So I have to go.
Gia: I have to go, I have to go...Where the fuck does everybody go when they have to go?" (Gia e Linda)

"Life and death
Energy and peace.
If I stop today it was still worth it.
Even the terrible mistakes that I made and would have unmade if I could.
The pains that have burned me and scarred my soul, it was worth it.
For having been allowed to walk where I've walked
which was to hell on earth
heaven on earth
back again
into
under
far in between
through it
in it
and above." (Gia Marie Carangi)

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Silêncio


Melhor um espaço vazio para representar o silêncio.
É que quando você fala, as pessoas respondem e as vezes as palavras magoam.
Quando você fica quieto, talvez ninguém diga nada e seja até entediante, mas não o suficiente para deixar escapar uma lágrima.
Três coisas na vida foram feitas para jamais serem quebradas: brinquedos, promessas e os corações.